quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Livro Contado pela Cia. Truks na CRESCER

Olha que interessante essa forma de contar história da Cia. Truks, utilizando a projeção de vídeo como recurso.
Aqui Henrique Sitchin conta a história do livro Marcelino Pedregulho para a revista Crescer.




Fonte: http://revistacrescer.globo.com/Revista/Crescer/0,,EMI177146-10532,00-LIVRO+CONTADO+NA+CRESCER.html

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Making a bridge - A Cidade dos Poços

Gente... olha que bacana esta versão de um conto tradicional português em vídeo.
Fica muito interessante, juntando a técnica da narração com animação quadro-a-quadro.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

SITE DO SANDRO
http://espiralevolutiva.com.br

A ONDA

ANDEI SUMIDA, MAS ESTOU DE VOLTA QUERENDO NOTÍCIAS DE TODOS.
TENHO NARRADO ESTÓRIAS PARA A EDITORA FTD E DEI UM TOUR PELA PERIFERIA DE SAMPA( DIADEMA, MAUÁ E ITAQUAQUECETUBA...) NADA GLAMUROSO, MAS MUITO POTENTE. QUANDO A GENTE CHEGA ONDE NÃO CHEGAM MUITAS COISAS BOAS, O IMPACTO É MUITO FORTE.ESTIVE EM ITATIBA TAMBÉM, PERTO DE ATIBAIA, FAZENDO UM TRABALHO COM EDUCADORES DA REDE PÚBLICA. É MUITO NECESSÁRIO, MUITO!
A AGENDA ESTÁ ANDANDO, O ANO TAMBÉM...
RECEBI NOTÍCIAS DO SANDRO , QUE TEM UM TRABALHO LINDO E MUITO INOVADOR, COISA DE SÉC. XXI MESMO! DEÊM UMA OLHADA : BACANA MESMO! QUEM SE HABILITA A MANDAR NOTÍCIAS?
PRÁ VOCÊS, EU TÔ MANDANDO UMA ONDA! BEIJOABRAÇOFORTE LEILA

A Onda

A ONDA
a onda anda
aonde anda
a onda?
a onda ainda
ainda onda
ainda anda
aonde?
aonde?
a onda a onda

Manuel Bandeira

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Curso de Contação de Histórias: “AFRICANIDADES”

A África, berço da humanidade, é o 2º continente mais populoso do mundo e o 3º em extensão territorial. Podemos dizer que não há uma África, mas várias Áfricas, pois é tão diversificada a sua paisagem física quanto humana, já que possui mais de 800 etnias em seu vasto território. Nesta oficina proponho explorarmos a riqueza deste continente nos encantando com sua gente, seus costumes, seus bichos, suas florestas, frondosos baob...ás, montanhas, rios, desertos e principalmente com suas histórias maravilhosas!

“_ Diga Vovô Dembo, me diga qual é a cor da África?
_ A África, meu pequeno Chaka?

_ A África é preta como a minha pele,
é vermelha como a terra,
é branca como a luz do meio-dia,
é azul como a sombra da noite,
é amarela como o grande rio,
é verde como a folha da palmeira.

_ A África, meu pequeno Chaka,
tem todas as cores da vida! ”
(texto de Marie Sellier)

Programa:

- Reflexões sob o imenso baobá – “a árvore sagrada”;
- Poemas africanos de expressão portuguesa;
- Contação de Histórias;
- Palavras e mais palavras;
- Acalantos e outras canções;
- Fazendo Arte: desenhando, pintando, rasgando, moldando, tecendo e costurando africanidades;

Público alvo:
Educadores, animadores culturais, coordenadores pedagógicos, psicopedagogos, fonoaudiólogos e demais interessados;

Materiais necessários:
Papéis coloridos, retalhos coloridos de tecido, lã, linha, agulha, lápis, canetinhas, tesoura e cola;

Data e duração:
Total de 6 horas: sábado, dia 24 de julho, das 8:00 às 14:00h;

Investimento: R$ 50,00

Local:
Rua Oliveira Alves, 148 – Ipiranga – Tel: 9222-8022

Inscrições e pagamento: Enviar confirmação pelo e’mail. Telefonar para agendar o pagamento através de depósito bancário.

Palestrante:
Maria Cecília Martin Ferri – Graduada em Fonoaudiologia pela PUC-SP; Pós-graduada em Terapia Ramain pelo IAL- Instituto ASRI-Labyrinthe e Universidade Metodista; Atua como Fonoaudióloga Clínica / Educacional e Supervisora Cultural da FUNSAI - Fundação Nossa Senhora Auxiliadora do Ipiranga; Responsável pelas Oficinas de Linguagem da ENSG – Escola Nossa Senhora das Graças; Contadora de Histórias; Professora do SIEEESP – Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Estado de São Paulo; Palestrante da UMAPAZ – Universidade do Meio Ambiente e Cultura de Paz.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

AGENDA

OI PARA TODOS! GOSTARIA DE USAR O NOSSO ESPAÇO PARA DIVULGAR AS ATIVIDADES DE CADA UM.
POR AGORA, QUERO CONTAR QUE A NOSSA LINDA LUANA MARGARIDA ESTARÁ NA LIVRARIA COMPANHIA ILIMITADA CONTANDO ESTÓRIAS BRASILEIRÍSSIMAS. AMANHÃ ÀS 15HS.PENA EU NÃO ESTAR EM SAMPA AMANHÃ... PRÁ QUEM PUDER! BEIJOABRAÇOFORTE LEILA
R. Florinéia, 38(trav. Av. Nova Cantareira, alt. nº 683)
2950-4683 / 2978-4564
www.companhiailimitada.com.br

domingo, 11 de julho de 2010

AFRICANOS QUE ADORO

APRENDI MUITO SOBRE NARRAR, ENCANTAR, SILENCIAR COM OS AFRICANOS. TIVE OPORTUNIDADES RARAS E PRECIOSAS DE VÊ- LOS EM AÇÃO! E OBSERVAR COM FERVOR É UM EXCELENTE MÉTODO DE APRENDIZAGEM. EU ACHO QUE PARECE COM "ABSORVER".TEM UMA ESCOLA DE MÚSICA EM MINAS CHAMADA PINDUCA, QUE É O APELIDO DO MILTON NASCIMENTO. LÁ ELES REVALORIZARAM E ESTÃO UTILIZANDO ESSE MÉTODO: DE APRENDER OBSERVANDO. JÁ NOTARAM O TRABALHO ENORME QUE É OBSERVAR?BOM , QUERO COMPARTILHAR COM VOCÊS UM AFRICANO QUE EU ADORO E QUE VEM DE UAM TERRA DE GRANDES NARRADORES E GRANDES NARRATIVAS: O MALI. ESPERO QUE GOSTEM! BEIJOABRAÇOFORTE LEILA

http://www.youtube.com/watch?v=v_ssIKitmec

quarta-feira, 7 de julho de 2010

OPS! TÉ QUE ENFIM CONSEGUI POSTAR! A VELA BRUXA APRENDE!
AMO ESSA MÚSICA DO ARNALDO ANTUNES, E ACHO QUE NÃO EXISTE ESTÓRIA SEM SILÊNCIO.
PRIMEIRO , O SILÊNCIO DO NARRADOR. E DEPOIS O SILÊNCIO DO OUVINTE.
NUM MUNDO SEM SILÊNCIO E MUITO BARULHO, NARRAR COM CERTEZA É TERAPEUTICO!
AQUELA TERAPIA PROFUNDA, TRANSFORMADORA...
TERMINO COM OUTRO GRANDE:
"TUDO O QUE MUDA A VIDA
VEM QUIETO, NO ESCURO
SEM PREPAROS DE AVISAR."
GUIMARÃES ROSA
BEIJOABRAÇOFORTE LEILA
O SILÊNCIO


ANTES DE EXISTIR COMPUTADOR EXISTIA TEVÊ
ANTES DE EXISTIR TEVÊ EXISTIA LUZ ELÉTRICA
ANTES DE EXISTIR LUZ ELÉTRICA EXISTIA BICICLETA
ANTES DE EXISTIR BICICLETA EXISTIA ENCICLOPÉDIA
ANTES DE EXISTIR ENCICLOPÉDIA EXISTIA ALFABETO
ANTES DE EXISTIR ALFABETO EXISTIA A VOZ
ANTES DE EXISTIR A VOZ EXISTIA O SILÊNCIO
O SILÊNCIO
FOI A PRIMEIRA COISA QUE EXISTIU
UM SILÊNCIO QUE NINGUÉM OUVIU
ASTRO PELO CÉU EM MOVIMENTO
E O SOM DO GELO DERRETENDO
O BARULHO DO CABELO EM CRESCIMENTO
E A MÚSICA DO VENTO
E A MATÉRIA EM DECOMPOSIÇÃO
A BARRIGA DIGERINDO O PÃO
EXPLOSÃO DE SEMENTE SOB O CHÃO
DIAMANTE NASCENDO DO CARVÃO
HOMEM PEDRA PLANTA BICHO FLOR
LUZ ELÉTRICA TEVÊ COMPUTADOR
BATEDEIRA, LIQUIDIFICADOR
VAMOS OUVIR ESSE SILÊNCIO MEU AMOR
AMPLIFICADO NO AMPLIFICADOR
DO ESTETOSCÓPIO DO DOUTOR
NO LADO ESQUERDO DO PEITO, ESSE TAMBOR

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Histórias para aproximar





 
 
 
 
 
 

 

Histórias para aproximar

Imagine você morar longe ou estar longe de uma criança e mesmo assim contar uma história para ela. Pela internet, tudo é possível

Cristiane Rogerio/Revista Crescer

Passei uns dias este ano na casa de minha amiga Cláudia, que tem três filhos e – também por meu incentivo – uma casa cheia de livros infantis, nos Estados Unidos, onde mora desde 2004. Tanto a Cláudia como o marido dela são sempre ávidos por novas leituras e, claro, os filhos vão no embalo.

Por razões óbvias, essa casa tem um acervo diferente dos daqui: há livros em inglês e em português. E, pela "bilinguidade" ali existente Olívia e Thomas, os mais velhos, já estão acostumados em ouvir histórias em mais de um idioma. Para meu espanto, não bastava somente ler um livro escrito em inglês e um livro escrito em português. Algumas vezes, eu tinha que ler o livro escrito inglês traduzindo para o português. Eles curtiam muito esta diversidade. E, claro, principalmente o meu jeito de contar, de ler, não por ser melhor que o dos pais, mas por ser diferente. Quem não quer experimentar um jeito diferente de ouvir uma história?

Há algum tempo, descobri uns sites estrangeiros que você pode clicar num livro e gravar um vídeo lendo uma história. No início, confesso que achei meio triste, porque as crianças estariam lendo ou ouvindo uma história por meio do computador. Porém, conversando com a Paula Perim, ela viu o lado muito bom de tudo: crianças distantes de avós, de tios queridos, ou até vivendo aqueles dias da viagem da mãe ou do pai podem garantir o contar de histórias do adulto que mais ama. Ela mesmo tem um caso deste na família e ficou muito animada com a possibilidade.

Deixei meu mau humor de lado e fiquei sonhando com a chance de voltar a contar histórias para Olívia e Thomas e, quem sabe, para Nina, a mais nova. Os sites que conhecemos aqui são estes, todos em inglês: http://www.astorybeforebed.com e http://www.readeo.com. Mas pensei que isso pode ser feito numa simples gravação postada no site youtube.com, imagine? Porque a voz da pessoa amada, da pessoa que foi construída a relação afetiva com a criança pode ser ouvida agora, pela internet, de qualquer lugar do mundo. Tem maravilha maior? As histórias, sim, aproximam. Mas do que qualquer distância "pense".

 

sexta-feira, 2 de julho de 2010

ERA UMA VEZ

Era uma vez uma cachorrinha
muito alegre e assanhadinha.

Era uma vez um tal Marcelo
que se achava muito belo.

Era uma vez um tal João
que comia sorvete com feijão.

Era uma vez um cachorrão,
enjoado, latidor e folgadão.

Era uma vez um palhaço,
que só levava tombaço.

Era uma vez um sacristão,
que tocava sino com o dedão.

Era uma vez uma professora,
que teimava em ser cantora.

Era uma vez um safado prefeito,
que dizia: Não tenho defeito!

Era uma vez um meu colega,
que levou uma boa esfrega.

Era uma vez um músico italiano,
que, com pé, tocava o seu piano.

Era uma vez um aloprado cientista,
que passava xixi na vista.

Era uma vez um feioso estudante,
que se dizia muito belo e elegante.

Era uma vez uma desajeitada menina,
que misturava perfume com gasolina.

Era uma vez o famoso Chico Peão,
que contou vantagem e foi pro chão.

Era uma vez uma tal dona Inês,
que tinha cão listrado e gato xadrez.

E eu quero saber agora
o resto destas histórias.

Conte de uma só vez,
quando chegar a sua vez.

Autor: Elias José

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Porque o Barba Azul é um grande conto da tradição

Conheci o conto O Barba Azul, reproduzido no post anterior, em um curso sobre autoconhecimento em que estudei há um tempo atrás.

Eu  fiquei tentado a adapta-lo para contar na apresentação final do curso Narrativas & Narradores.
Entretanto, depois de ler o texto abaixo, um exerto do livro Mulheres que correm com os lobos, tive mesmo de mudar de idéia.

Em primeiro lugar, o conto precisaria ser condensado em uma página, por questões de tempo. 
Tarefa impossível! Como podemos ver no texto, cada passagem, cada elemento da história tem sua função, seu simbolismo e sua chave iniciática e psicológica - não podendo ser subtraído sob pena de se perder a força transformadora do conto.

O Barba Azul

"Existe uma mecha de barba que fica guardada no convento das freiras brancas nas montanhas distantes. Como chegou até o convento, ninguém sabe. Uns dizem que foram as freiras que enterraram o que sobrou do seu corpo já que ninguém mais se dispunha a nele tocar. Desconhece-se o motivo pelo qual as freiras iriam guardar uma relíquia dessa natureza, mas é verdade. Uma amiga de uma amiga minha viu com seus próprios olhos. Ela diz que a barba é azul, da cor do índigo para ser exata. É tão azul quanto o gelo escuro no lago, tão azul quanto a sombra de um buraco à noite. Essa barba pertenceu um dia a alguém de quem se dizia ser um mágico fracassado, um homem gigantesco com uma queda pelas mulheres, um homem conhecido pelo nome de Barba-azul.Dizia-se que ele cortejava três irmãs ao mesmo tempo. As moças tinham, porém, pavor de sua barba com aquele estranho reflexo azul e, por isso, se escondiam quando ele chamava. Num esforço para convencê-las da sua cordialidade, ele as convidou para um passeio na floresta. Chegou conduzindo cavalos enfeitados com sinos e fitas cor-de-carmim. Acomodou as irmãs e a mãe nos cavalos, e partiram a meio-galope floresta adentro. Lá passaram um dia maravilhoso cavalgando, e seus cães corriam a seu lado e à sua frente. Mais tarde, pararam debaixo de uma árvore gigantesca, e o Barba-azul as regalou com histórias e lhes serviu guloseimas."Bem, talvez esse Barba-azul não seja um homem tão mau assim", começaram a pensar as irmãs.Voltaram para casa tagarelando sobre como o dia havia sido interessante e como haviam se divertido. Mesmo assim, as suspeitas e temores das duas irmãs mais velhas voltaram, e elas juraram quem não veriam o Barba-azul de novo. A irmã mais nova, no entanto, achou aque, se um homem podia ser tão encantador, talvez ele não fosse tão mau. Quanto mais ela falava consigo mesma, menos assustador ele lhe parecia, e sua barba também parecia menos azul.Portanto, quando o Barba-azul pediu sua mão em casamento, ela aceitou. Ela havia refletido muito sobre a sua proposta e concluído que ia se casar com um homem muito distinto. Foi assim que se casaram e, em seguida, partiram para seu castelo no bosque.- Vou precisar viajar por algum tempo - disse ele um dia à mulher. - Convide sua família para vir aqui se quiser. Você pode cavalgar nos bosques, mandar os cozinheiros prepararem um banquete, pode fazer o que quiser, qualquer desejo que seu coração tenha. Para você ver, tome minhas chaves. Pode abrir toda e quelquer porta das despensas, dos cofres, qualquer porta do castelo; mas essa chavinha, a que tem nos altos uns arabescos, você não deve usar.- Está bem, vou fazer o que você pediu. Parece que está tudo certo. Portanto pode ir, meu querido, não se preocupe e volte logo. - E assim ele partiu, e ela ficou.Suas irmãs vieram visitá-la e elas sentiam, como todo mundo, muita curiosidade a respeito das instruções do dono da casa quanto ao que deveria ser feito enquanto ele estivesse fora. A jovem esposa falou alegremente.- Ele disse que podemos fazer o que quisermos e entrar em qualquer aposento que desejarmos, com exceção de um. Só que eu não sei qual é o aposento. Só tenho uma chave e não sei que porta ela abre.As irmãs resolveram fazer um jogo para ver que chave servia em que porta. O castelo tinha três andares, com cem portas em cada ala, e como havia muitas chaves no chaveiro, elas iam de porta em porta, divertindo-se imensamente ao abrir cada uma delas. Atrás de uma porta, havia uma despensa para mantimentos, atrás de outra, um depósito de dinheiro. Todos os tipos de bens estavam atrás das portas, e tudo parecia maravilhoso o tempo todo. Afinal, depois de verem todas aquelas maravilhas, elas acabaram chegando ao porão e, ao final do corredor, a uma parede fechada.Ficaram intrigadas com a última chave, a que tinha o pequeno arabesco.- Talvez essa chave não sirva para abrir nada - Enquanto diziam isso, ouviram um ruído estranho - errrrrrr. - Deram uma espiada na esquina do corredor e - que surpresa! - havia uma pequena porta que acabava de se fechar. Quando tentaram abri-la, ela estava trancada.
- Irmã, irmã, traga sua chave - gritou uma delas - Sem dúvida é essa a porta para aquela chavinha misteriosa.Sem pestanejar, uma das irmãs pôs a chave na fechadura e a girou. O trinco rangeu, a porta abriu-se, mas lá dentro estava tão escuro que nada se via.- Irmã, irmã, traga uma vela. - Uma vela foi acesa e mantida no alto um pouco mais para dentro do aposento, e as três mulheres gritaram ao mesmo tempo, porque no quarto havia uma enorme poça de sangue; ossos humanos enegrecidos estavam jogados por toda parte e crânios estavam empilhados nos cantos como pirâmides de maçãs.Elas fecharam a porta com violência, arrancaram a chave da fechadura e se apoiaram umas nas outras arquejantes, com o peito arfando. Meu Deus! Meu Deus!A esposa olhou para a chave e viu que ela estava manchada de sangue. Horrorizada, usou a saia para limpá-la, mas o sangue prevaleceu.- Oh, não! - exclamou. Cada uma das irmãs apanhou a chave minúscula nas mãos e tentou fazer com que voltasse ao que era antes, mas o sangue não saía.A esposa escondeu a chavinha no bolso e correu para a cozinha. Quando lá chegou, seu vestido branco estava manchado de vermelho do bolso até a bainha pois a chave vertis lentamente lágrimas de sangue vermelho-escuro.- Rápido, rápido, dê-me um esfregão de crina - ordenou ela à cozinheira. Esfregou a cheva com vigor, mas nada conseguia deter seu sangramento. Da chave minúscula transpirava uma gota após a outra se sangue vermelho.Ela levou a chave para fora, tirou cinzas do fogão a lenha, cobriu a chave de cinzas e esfregou mais. Colocou-a no calor do fogo para cauterizá-la. Pôs teia de aranha nela para estancar o fluxo, mas nada conseguia deter as lágrimas de sangue.- Ai, o que vou fazer? - lamentou-se ela. - Já sei, vou guardar a chave. Vou colocála no guarda-roupa e fechar a porta. Isso é um pesadelo. Tudo vai dar certo. - E foi o que fez.O marido chegou de volta exatamente na manhã do dia seguinte e entrou no castelo já procurando pela esposa.- E então, como foram as coisas enquanto eu estive fora?
- Tudo bem, senhor.
- Como estão minhas dispensas? - trovejou o marido.
- Muito bem, senhor.
- E como estão meus depósitos de dinheiro? - rosnou ele.
- Os depósitos de dinheiro também estão bem, senhor.
- Então, tudo está certo, esposa?
- É, tudo está certo.
- Bem - sussurou ele - então é melhor devolver minhas chaves.
Com um relancear de olhos, ele percebeu a falta de uma chave.
- Onde está a menorzinha?
- Eu... eu a perdi. É, eu a perdi. Estava passeando a cavalo o chaveiro caiu e eu devo ter perdido uma chave.
- O que você fez com ela, mulher?
- Não... não me lembro.
- Não minta para mim! Diga-me o que fez com aquela chave!Ele tocou seu rosto como se fosse lhe fazer carinho, mas em vez disso a segurou pelos cabelos.- Sua traidora! - rosnou, jogando-a no chão. - Você entrou naquele quarto, não entrou?
Ele abriu o guarda-roupa com brutalidade e a pequena chave na prateleira de cima havia sangrado, machado de vermelho todos os belos vestidos de seda que estavam pendurados.- Chegou a sua vez, minha queria - berrou ele, arrastando-a pelo corredor e pelo porão adentro até pararem diante da terrível porta. O Barba-azul apenas olhou para a porta com seus olhos enfurecidos, e ela se abriu para ele. Ali jaziam os esqueletos de todas as suas esposas anteriores.- Vai ser agora!!! - rugiu ele, mas ela se agarrou ao batente da porta sem largar, implorando por clemência.- Por favor, permita que eu me acalme e me prepare para a morte. Conceda-me quinze minutos antes de me tirar a vida para que eu possa me reconciliar com Deus.
- Está bem - rosnou ele - Você tem seus quinze minutos, mas prepare-se.A esposa correu escada acima até seus aposentos e determinou que suas irmãs fossem para as muralhas do castelo. Ajoelhou-se para rezar, mas, em vez de rezar, gritou para as irmãs.- Irmãs, irmãs, vocês estão vendo a chegada dos nossos irmãos?
- Não vemos nada, nada na planície nua.A cada instante ela gritava para as muralhas.
- Irmãs, irmãs, estão vendo nossos irmãos chegando?
- Vemos um redemoinho, talvez um redemoinho de areia bem longe.Enquanto isso, o Barba-azul esbravejava para que sua esposa descesse até o porão para ser decapitada.
- Irmãs, irmãs! Estão vendo nossos irmãos chegando? - gritou ela mais uma vez.O Barba-azul berrou novamente pela esposa e veio subindo a escada de pedra com passos pesados.
- Estamos, estamos vendo nossos irmãos - exclamaram as irmãs. - Eles estão aqui e acabaram de entrar no castelo.O Barba-azul vinha pelo corredor na direção dos aposentos da esposa.
- Vim apanhá-la - gritou ele. Suas passadas eram pesadas; as pedras no piso se soltavam; a areia da argamassa caía esfarinhada no chão.No instante em que o Barba-azul entrou nos aposentos com as mãos esticadas para agarra-la, seus irmãos chegaram galopando pelo corredor do castelo ainda montados, entrando assim no quarto. Ali eles encurralaram o Barba-azul fazendo com que caísse até a balaustrada. E ali mesmo, com suas espadas, avançaram contra ele, golpeando e cortando. fustigando e retalhando, até derrubá-lo ao chão, matando-o afinal e deixando para os abutres o que sobrou dele. "
[de Clarisse Pinkola Estés, em Mulheres que Correm com os Lobos,
Ilustração: Gustave Doré]